Paulo, faz hoje dois anos que partiste e quero dizer-te que fazes-nos muita falta.
Fazes falta a uma geração que carece de um ídolo como tu… jovens pilotos que precisavam “beber” da tua sabedoria, da tua experiência, das tuas histórias.
Se me perguntassem há uns anos como eu acharia que seria o Paulo Gonçalves aos 42 anos de idade, eu diria que seria alguém já retirado da competição mas “ativo” dentro do nosso desporto.
Diria que serias o mentor perfeito para as nossas seleções nacionais, por exemplo. Alguém capaz de colocar um piloto no “mindset” certo antes de uma corrida. Alguém com a frieza para conseguir dizer na cara “Os estrangeiros ao teu lado não têm duas pernas, dois braços e uma cabeça como tu? Então deixa-te de coisas e enrola o punho porque tu és melhor que eles!”
Não porque os nossos pilotos não tenham essa mentalidade mas apenas porque a palavra de alguém que chegou ao topo “a pulso” tem outro “peso”.
Sim, “a pulso”. Aproveitaste todas as oportunidades que te deram até ao último recurso porque vinhas “do zero” e talvez tivesses receio que fosse a última. Mas definiste sempre objetivos que, um após o outro, foste cumprindo.
E por falar em objetivos, alguma vez disseste a alguém que querias ser campeão do mundo de Rally Raids? E esse alguém acreditou genuinamente que um “pequeno” português ia pegar numa moto de 160 kg e derrotar o “gigante do Dakar” Marc Coma na luta pelo título na última prova do Mundial de 2013?
Sim, porque se esse alguém a quem tu disseste que querias ser campeão do mundo não acreditou em ti, então teve muito azar! Não havia impossíveis para ti e, no bom sentido do termo, querias lá saber quem era o adversário…
O maior adversário de Paulo Gonçalves era… Paulo Gonçalves! Para ti, não existia a expressão “zona de conforto”, pois não? Cada vez que te montavas na moto, o teu objetivo era superar as tuas próprias expectativas, as tuas próprias capacidades, os teus próprios limites.
Confesso que, no meu pensamento mais egoísta, hoje desejava que não tivesses conseguido trocar o motor à tua Hero na etapa 3 do Dakar 2020… Apenas porque isso podia ter significado que hoje ainda estavas entre nós e que eu poderia chegar a uma qualquer prova e ver-te rodeado de pilotos jovens absolutamente maravilhados por ouvir as histórias do grande “Speedy”.
Bateste quase todos os records que havia em Portugal mas sabes que mais? Não é pelos números que te tornaste imortal para nós… é pela garra, pela entrega, pela determinação, pelo espírito de sacrifício. É esse o legado que te prometo não deixar que algum dia esqueçam.