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A revista Corpo em Foco (Body Issue) 2016 fez um ensaio quente e entrevistou o Octacampeão do AMA Supercross e Motocross, Ryan Dungey que atualmente está se recuperando de uma lesão na coluna, decorrente de um acidente na “Thunder Valley National” em junho. Ele conversou com o repórter Morty Ain, sobre seus treinamentos, ser um perfeccionista… e seu medo de montanhas russas.

Veja abaixo a entrevista completa:

Construção do corpo perfeito para o Motocross

Usamos muito nossas pernas para suspenção. Se você pensa em pilotar uma moto, tem que ter em mente que ficara ligado à ela apenas pelo guidão, e tentar manter o equilíbrio nas curvas de um lado para o outros e nas subidas e descidas. Enquanto isso, suas pernas estão ocupadas apertando e mantendo a aderência e o contado da moto com a pista. São várias áreas do corpo trabalhando, o corpo inteiro. Acho que não tem nenhum músculo que eu não use.

Acredito que a preparação física para o esporte é negligenciada e subvalorizada. Ninguém deve pilotar uma moto sem ter o corpo bem preparado. As pessoas não conseguem ver nossas caras sob o capacete, mas elas ficam muito vermelhas. Se imaginem subindo uma ladeira por 35 minutos em um ritmo acelerado, prestes a morrer. Você está no limite e não aguenta mais. Essa é a sensação de pilotar uma moto. Exige muita resistência.

Tivemos férias no final da temporada por 5 semanas, e nesse período não pilotamos, para deixar o corpo recarregar. Esse ciclo esgota o corpo, estou dolorido da cabeça aos pés. Até minha cabeça está cansada. Nós subestimamos a quantidade de músculos e de áreas do corpo que usamos, no corpo todo.

Treinamento

Acredito que tenho sorte por viver das corridas. Mas é um trabalho duro. O treinamento é de 10 a 15 horas por semana. Se você não está treinando, está descansando e vice e versa. Ou seja, é um trabalho de 24 horas.

Nossas corridas duram 70 minutos, e são geralmente no verão, pode apostar que vai estar muito calor. Chega perto de 100 graus e temos que usar muitas roupas. A moto pesa em torno de 100 quilos, e as roupas mais uns 6, entre capacete, bota, etc. Você soa muito.

Nos dias mais pesados, chegamos a consumir de 6.000 a 7.500 calorias e em uma corrida queimamos cerca de 750 e 800 calorias. Ou seja, em um dia de corrida queimamos aproximadamente 1.500 calorias correndo.

A chave é o exercício. Hoje em dia todo mundo desse meio está treinando. Antes a gente só andava. Rodamos entre 190 e 250 quilômetros por semana. Fazemos todos os dias exercícios de cardio antes de correr. Hoje, por exemplo, corremos 40 quilômetros de manhã. Fazemos muita bicicleta, que não impacta tanto nossos joelhos, mas ajuda a manter uma boa firmeza de base. Gosto de pedalar. Gostei de ter assistido o Tour da França e as coisas relacionadas. Se não sobrevivesse disso, ainda assim seria ativo e envolvido na saúde e bem-estar do exercício. Gosto de ser saudável, magro e forte.

Seu medo de montanhas russas.

Montanhas russas? Não sou fã. Acho que é alguma coisa de controle (risadas). Na moto eu sinto que estou no controle, mas quando se trata de coisas assim, fico pensando de mais. Eu vou nas corridas com minha esposa, mas não fico pilhado nisso. Eu me coloco na situação e olhando minhas fotos, fico com medo, e ai ela da aquele grande sorriso (risos). É desconcertante, mas faço esse esforço pela equipe.

Sobre ser uma criança gordinha

Quando criança eu era um pouco gordinho e não gostava disso, me deixava inseguro. Eu cresci em Minnesota, e lá não podemos andar de moto, a não ser que coloquemos correntes nos pneus e andemos nos lagos congelados. Entre o frio e ficar em casa o tempo todo, você acaba entediado e provavelmente comendo. Nós fazíamos snowboard e snowmobiling as vezes, mas você não queima tantas calorias no inverno como queima no verão. No verão podemos pilotar, nadar no lago e pular na piscina. Sim fui gordinho (risadas).

Sobre ser perfeccionista

Costumo ser um pouco. Se faço alguma coisa, quero fazer direito. Nada de meia boca. Dou duro demais para chegar apenas em segundo ou terceiro. Não acho ruim, curto esse resultado, mas sempre tento melhorar meus resultados e dar meu melhor.

Desde o início da minha carreira, nunca soube lidar com o estresse. Como vou estar lá todos os finais de semana? Daí comecei a tentar controlar as coisas, as expectativas e essas coisas. Agora já lido melhor com isso. “Meu melhor é meu melhor”, sei que fiz na corrida tudo que pude. Estou preparado. Aplicamos o treinamento na corrida e temos um plano de ataque. Aprender como pensar todas as possibilidades, mentalmente, é o maior desafio para mim.

Sobre ser flexível

Meu maior desafio corporal é ser flexível e solto. Pilotar uma moto gera tensão, você está pressionando a moto o tempo todo, quer queira quer não. Os músculos da virilha apertam muito a moto, e esse ponto é muito negligenciado no nosso esporte. As pessoas acham que podem pilotar, pedalar, correr e fazer tudo sem se alongar. Bom, com o tempo o corpo começa a “reclamar” e ficar rígido e dolorido. Aprendi que um corpo solto, ágil e flexível, seja por meio de massagens, alongamentos ou ioga, fará com que seu desempenho seja melhor.

Dou graças a Deus que não tive muitas lesões. Houve um período que estava treinando tanto, o que foi bom pois descobri meu limite, que acabei sobrecarregando meu corpo. Pensava que quanto mais melhor, e houve um momento que simplesmente tive que parar, e disse “não posso mais fazer isso”. Estava me negligenciando, não descansava e isso era minha culpa.

Geralmente as lesões acontecem porque as pessoas estão fatigadas ao final da corrida. É ai que os erros acontecem. Por isso a preparação é importante. As vezes ser forte, saudável e mais magro pode ser um diferencial. Quando você cai, mas é forte, ainda consegue se levantar e continuar. Por isso o treinamento é tão importante.

Tive uma lesão na clavícula, quebrei a clavícula, os pulsos e mais algumas coisas. A maioria das pessoas pensam que “é tudo diversão e jogos”. Uma moto 450 tem 60 cavalos de potência, se você a desrespeita-la vai cair. Você tem que ter muito respeito pela moto e pelo esporte, tem que ser esperto e se colocar em boas posições, sabendo com o que pode e o que não pode lidar.

Sobre aposentadoria

Antigamente, os pilotos profissionais eram caras mais velhos. Agora são quase que crianças. Há muito talento que pode levar ao esporte a outro nível. Eles vêm na minha categoria – 450cc – que é mais intensa forçam ainda mais. Eu sempre tenho que trazer a tona a minha “energia de criança”.  Sabe aquela energia que se tem todo o tempo? Ela vai indo embora quando envelhecemos. Não quero que isso aconteça, por isso treino muito. Por enquanto tem mais pilotos, mais talento e mais competição. Quero continuar no topo o máximo possível, mas em segundo, não consigo, ai será o momento de me retirar.

imagens Ryan Dungey: Red Bull

Confira mais em: ESPN  e um vídeo com sua entrevista em inglês